Tuesday, May 1, 2007
Hilda Hilst: An Instant's Bitter Aria
Upon me the sudarium of things. A vast whiteness,
A transparency-layer upon the people. Look:
I do not look at you with your eye that knows
Almost everything in you is transient. My liquid-eye
Discovers a spent afternoon, a dawn-afternoon,
An elongated time where you made your widowhood.
You did not lose the woman or man you loved. We loved so much
And loss is daily and infinite. That’s not it
NOW
When I see you and I know of an elongated Time-Afternoon-Dawn.
You looked ahead, or beside you, or above you,
Or you didn’t look at all, or suddenly someone came into your living room
And you said clearly: should I say yes to the folks from the Extens Union?
Which yes? To whom? And am I myself, this person here?
Distance, mysterious incongruence, me myself?
His mouth continues: deadline loss ten percent final solution
Final final solution… You fold whole with much sobriety
The document in the last drawer, over to the left… My Father,
Between paper and me, between this table and me
And this whole gaping mouth, between me myself and he
Who repeats Union Union, which filament? Anchor,
Coagulated time, one day I was all rest and herding. One day
Everything was me, bulb that seduced, soothsaying gullet,
Viscous fat howl, I howled between the grapevines, I howled
Because I know about this NOW,
That the bitch of Time gnawed at me, that is was going to gnaw, that it growled while gnawing me
Bitch-time, you and I… what contour of nothing, what gone thing
In this double adventure, that… that yes, that yes… Look:
Say yes to those from the Extens Union.
Ária Amaríssima de um instante
SOBRE mim o sudário das coisas. Brandura extensa
Camada-transparência sobre as gentes. Vê só:
Eu não te olho com o teu olho que sabe
Que quase tudo em ti é transitório. Meu olho-liquidez
Descobre uma tarde esvaída, tarde-madrugada
Tempo alongado onde te fizeste em viuvez.
Não perdeste a mulher ou o homem que amavas. Amamos tanto
E a perda é cotidiana e infinita. Não é isso
AGORA
Quando te olho e sei de um Tempo-Tarde-Madrugada alongada.
Olhaste à tua frente, ou do lado ou acima de ti
Ou não olhaste, ou de repente alguém entrou na tua sala
E disse claramente: devo dizer que sim àqueles da Extens Union?
Que sim? A quem? E sou eu mesmo, este que está aqui?
Distância, sigilosa incongruência, eu mesmo?
A boca do outro continua: prazo perda dez por cento solução final...
Solução final final... Te dobras inteiro com muita sobriedade
O documento na última gaveta, bem à esquerda... Meu Pai,
Entre o papel e eu, entre esta mesa e eu
E essa boca inteira debulhada, entre eu mesmo e aquele
Que repete Union Union, que filamento? Âncora,
Tempo coagulado, um dia fui descanso e pastoreio. Um dia
Tudo era eu, bulbo que seduzia, goela clarividente
Uivo gordo viscoso, uivei entre as parreiras, uivei
Porque sabia deste AGORA,
Que a cadela do Tempo me roia, ia roer, rosnava me roendo
Cadela-tempo, tu e eu... que contorno de nada, que coisa ida
Nossa dúplice aventura, que... que sim, que sim... Olha:
Diga que sim a esses da Extens Union.
Texto extraído do encarte à edição de "Cadernos da Literatura Brasileira", editado pelo Instituto Moreira Salles - São Paulo, número 8 - Outubro de 1999)
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