Wednesday, March 28, 2007

Hilda Hilst: Nameless Songs






I.
May this love neither blind me nor follow me.
And may it never notice me.
May it spare me from being pursued
And from torment.
From only being so that he knows me.
May the gaze not lose itself among the tulips
Because such perfect forms of beauty
Spring from the glare of shadows.
And my Lord inhabits the glimmering dark
From a clutter of ivies on a high wall.

May his love only make me discontent
And tired of tiredness. And may I
Shrink before so many weaknesses. Small and soft
Like spiders and ants.

May this love see me only in parting.


I.
Que este amor não me cegue nem me siga.
E de mim mesma nunca se aperceba.
Que me exclua do estar sendo perseguida
E do tormento
De só por ele me saber estar sendo.
Que o olhar não se perca nas tulipas
Pois formas tão perfeitas de beleza
Vêm do fulgor das trevas.
E o meu Senhor habita o rutilante escuro
De um suposto de heras em alto muro.

Que este amor só me faça descontente
E farta de fadigas. E de fragilidades tantas
Eu me faça pequena. E diminuta e tenra
Como só soem ser aranhas e formigas.

Que este amor só me veja de partida.




Source: Cantares do Sem Nome e de Partidas - SP: Massao Ohno, 1995.

Paulo Leminski: Minimal Distances



a bat text
finds its way with echoes
a blind text text
an echo from anti anti antiquity
a yelp on the wall wall wall
comes back green green green
with me with its its itself
to listen is to see yourself self self


Distâncias Mínimas

um texto morcego
se guia por ecos
um texto texto cego
um eco anti anti anti antigo
um grito na parede rede rede
volta verde verde verde
com mim com com consigo
ouvir é ver se se se se se

Monday, March 19, 2007

Paulo Leminski: Iceberg



An Arctic poem,
Of course, that is what I want.
A pale practice,
Three verses in ice.
A surface-phrase
Where no life-phrase
Will be possible.
No more phrases. None.
A null lyre,
Reduced to the purest minimum,
A blink of the soul,
The only unique thing.
But I speak. And, in speaking, I cause
Clouds of equivocations
(Or a swarm of monologues?)
Yes, winter, we are alive.




Uma poesia ártica,
claro, é isso que eu desejo.
Uma prática pálida,
três versos de gelo.
Uma frase-superfície
onde vida-frase alguma
não seja mais possível.
Frase, não, Nenhuma.
Uma lira nula,
reduzida ao puro mínimo,
um piscar do espírito,
a única coisa única.
Mas falo. E, ao falar, provoco
nuvens de equívocos
(ou enxame de monólogos?)
Sim, inverno, estamos vivos.



Paulo Leminski on Poetry




Poetry is a kind of heroism. For you to believe across the years in this useless thing that is the pure beauty of language, that is poetry -- it’s an act of heroism. It’s almost (I’d like to believe) a sort of sainthood.


A poesia é uma espécie de heroísmo. Você continuar ao longo dos anos acreditando nessa coisa inútil que é a pura beleza da linguagem, que é a poesia, é um heroísmo, é uma das molidades quase (eu gostaria de acreditar) de santidade.



* Obrigada ao Diego pela dica do vídeo.

Sunday, March 11, 2007

Hilda Hilst: Verses for a Beloved Gentleman



Verses with Much Love
For a Beloved Gentleman

I.
Ship
Bird
Windmill
And everything else I’ll become
So that I may
Step more gingerly
Along your path.

I.
Nave
Ave
Moinho
E tudo mais serei
Para que seja leve
Meu passo
Em vosso caminho.



XIII.
You say that I am vain.
And that, as you understand it,
Women of tender age
Who don’t want to become lost

Must not have so many
And such daydreams.

Sir, if I add to myself
Flowers and lace, satin,
If I loosen my hair in the wind
It’s for you, not for me.

I have two content eyes
And a fresh, rosy mouth.
And vanity only permits
Vanities when wished-for.

And besides you
I wish for nothing else.

XIII.
Dizeis que tenho vaidades.
E que no vosso entender
Mulheres de pouca idade
Que não se queiram perder

É preciso que não tenham
Tantas e tais veleidades.

Senhor, se a mim me acrescento
Flores e renda, cetins,
Se solto o cabelo ao vento
É bem por vós, não por mim.

Tenho dois olhos contentes
E a boca fresca e rosada.
E a vaidade só consente
Vaidades, se desejada.

E além de vós
Não desejo nada.

Source:
"Trovas de muito amor para um amado senhor"
(Poesia: 1959-1979 - São Paulo: Quíron; [Brasília]: INL, 1980.)

Friday, March 9, 2007

Hilda Hilst: Fragments




Fragments

Chaste and sad walls
Prisoners of themselves
Like creatures who grow old
Without knowing the mouth
Of men and women.
Dark walls, and shy:
Silken scorpions
In the nook of the rock.
There are lovely heights
That damage when touched.
Like your own mouth, love,
When it touches me.


Fragmentos

Muros castos e tristes
Cativos de si mesmos
Como criaturas que envelhecem
Sem conhecer a boca
De homens e mulheres.
Muros Escuros, tímidos:
Escorpiões de seda
No acanhado da pedra.
Há alturas soberbas
Danosas, se tocadas.
Como a tua própria boca, amor,
Quando me toca...



Sunday, March 4, 2007

Hilda Hilst: Poems for the Men of Our Time (II)




Beloved life, my death takes its time.
What shall I tell my man,
What trip shall I propose? Kings, ministers
And all of you politicians,
What word beside gold and shadow
Stays in your ears?
Beside your capacity
What do you know
Of men’s souls?
Gold, conquest, profit, success
And our bones
And our people’s blood
And men’s lives
Between your teeth.


Amada vida, minha morte demora.
Dizer que coisa ao homem,
Propor que viagem? Reis, ministros
E todos vós, políticos,
Que palavra além de ouro e treva
Fica em vossos ouvidos?
Além de vossa capacidade
O que sabeis
Da alma dos homens?
Ouro, conquista, lucro, logro
E os nossos ossos
E o sangue das gentes
E a vida dos homens
Entre os vossos dentes.



Hilda Hilst: Poems for the Men of Our Time



While I write a verse, you surely live.
You work your wealth, and I work my blood.
You will say that blood is not having your gold
And the poet tells you: buy your time.

Ponder your hurried life, listen to
Your inner gold. I speak of another yellow.
While I write a verse, you who never read me
Smile when someone speaks to you about my verse.
To you, a poet is like an ornament, and you change the subject:
“My precious time cannot be wasted on poets.”
Brother of my moment: when I die
Something infinite also dies. It’s hard to say it:
A POET’S LOVE DIES.
And this is so large that your gold cannot buy it,
And so rare, that that smallest piece is so vast
That it doesn’t fit in my corner.



Enquanto faço o verso, tu decerto vives.
Trabalhas tua riqueza, e eu trabalho o sangue.
Dirás que sangue é o não teres teu ouro
E o poeta te diz: compra o teu tempo.

Contempla o teu viver que corre, escuta
O teu ouro de dentro. É outro o amarelo que te falo.
Enquanto faço o verso, tu que não me lês
Sorris, se do meu verso ardente alguém te fala.
O ser poeta te sabe a ornamento, desconversas:
"Meu precioso tempo não pode ser perdido com os poetas".
Irmão do meu momento: quando eu morrer
Uma coisa infinita também morre. É difícil dizê-lo:
MORRE O AMOR DE UM POETA.
E isso é tanto, que o teu ouro não compra,
E tão raro, que o mínimo pedaço, de tão vasto
Não cabe no meu canto.



Source:
"Poemas aos homens do nosso tempo" in Júbilo memória noviciado da paixão. SP: Massao Ohno, 1974.